terça-feira, 16 de junho de 2009

POESIA

No dia 29 de Maio, durante a aula de Língua Portuguesa, a professora Dulce fez-nos uma surpresa.

Convidou, sem que nós déssemos por nada, os nossos encarregados de educação, para virem à nossa aula ler uns poemas.

A professora teve esta ideia, porque nos propôs a leitura de poemas para os nossos pais, e uma vez que recusámos, por vergonha, ela decidiu incentivar-nos desta forma tão original!

Ficámos bastante surpreendidos, pois não estávamos nada à espera.

Apenas quatro encarregados de educação tiveram disponibilidade de comparecer, mas já foi o suficiente para nos deixarem sem palavras, com os bonitos poemas que nos trouxeram.

 

Os poemas foram:

Lágrima de Preta – António Gedeão

Encontrei uma preta

que estava a chorar,

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar.

 

Recolhi a lágrima

com todo o cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.

 

Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito transparente.

 

Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.

 

Ensaiei a frio,

experimentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é costume:


Nem sinais de negro,

nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)

e cloreto de sódio.

Poema da Morte na Estrada – António Gedeão

Na berma da estrada, nuns quinhentos metros, 
estão quinhentos mortos com os olhos abertos. 

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos. 
Nem tiveram tempo para fechar os olhos. 

Eles bem sabiam dos bancos da escola 
como os homens dignos sucumbem na guerra. 
Lá saber, sabiam. 
A mão firme empunhando a espada ou a pistola, 
morrendo sem ceder nem um palmo de terra. 

Pois é. 
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis, 
não lhes deu tempo para serem heróis. 

Eles bem sabiam que o último pensamento 
devia estar reservado para a pátria amada. 
Lá saber, sabiam. 
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento. 
Não lhes deu tempo para pensar em nada. 

Agora, 
na berma da estrada, nuns quinhentos metros, 
são quinhentos mortos com os olhos abertos.


Liberdade – Fernando Pessoa
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
 
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
 
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
 
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
 
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
 
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

 

 As fotografias não mentem :))






 

Nenhum comentário:

Postar um comentário